segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Super-8 é o avô do VHS e do DVD


Nelson é colecionador e cinéfilo. O gosto pelos filmes teve início aos cinco anos de idade. 
Ele não abre mão das mídias antigas.

Publicado originalmente no site do Jornal Cruzeiro, em 05/04/15 

Super-8 é o avô do VHS e do DVD

Por José Antônio Rosa (joseantonio.rosa@jcruzeiro.com.br)

O professor de matemática Nelson Toledo Filho tem um histórico emblemático no que se refere ao uso de mídias antigas. Ele entrou num cinema pela primeira vez aos cinco anos de idade. Foi para assistir Pinocchio, o desenho dos estúdios Disney. Com sete, esteve em Sorocaba e conferiu a exibição de Quando os dinossauros dominavam a terra".

Desde então, não parou mais. Sempre levado pelos pais, também apaixonados pela chamada sétima arte, Nelson, que mora em Votorantim, tornou-se colecionador, proprietário de locadora, apresentador de programa (comandou, entre 1996 e 1998 o Tela 39, na extinta TV Metropolitana; atualmente apresenta o Falando de cinema, na TV Votorantim. Foi, ainda, curador de festivais e possui, hoje, um dos maiores acervos do país de filmes no formato Super-8. São, ao todo, mais de 1,5 mil títulos.

Para quem não sabe, Super 8 é o nome das fitas gravadas em poliéster (material que substituiu o acetato) com largura de oito milímetros. Mais resistentes e de melhor qualidade, elas são consideradas as avós do DVD e surgiram antes do VHS. Até o começo dos anos 80, quando do advento do videocassete, quem quisesse assistir filmes em casa tinha como opção comprá-los nessa configuração e usar um projetor que exibia imagens na parede.

Toledo garante que o nível da projeção sempre foi muito bom. Até hoje a película é usada nas produções cinematográficas. Os grandes estúdios, é claro, recorrem à tecnologia digital. Mesmo assim, fazem a passagem (chamada de transcrição) em fitas. O interesse por filmes só fez crescer e Nelson Toledo passou a procurar produções policiais, particularmente tramas que destacam a figura de detetives.

Ele guarda raridades dos anos 30, 40 e algumas relíquias rodadas em datas anteriores. São os casos, por exemplo, da versão em S-8 de Wings, vencedor da primeira edição do Oscar na categoria de melhor filme, em 1927, e do primeiro Ben-Hur, realizado em 1909.

Aliás, pouca gente faz ideia, mas o épico protagonizado por Charlton Heston no final da década de 50 (e mais conhecido também), teve três versões e está para ganhar a quarta com estreia prevista para 2016. Outra relíquia é Paixão de índio, dirigido por Cecil B. de Mille no ano de 1913.

Parte do cenário do filme foi usado para montagem de um museu temático que funciona até hoje em Hollywood. Curiosamente, poucas produções brasileiras foram realizadas no formato S-8. Nelson Toledo dispõe de alguns títulos lançados em promoção de revistas que circularam nos anos 70, como a Status.

Um deles, Contos eróticos, reúne quatro histórias do gênero pornochanchada, destacando no elenco nomes como os de Lima Duarte e Cláudio Cavalcanti. Também rara é a série de filmes datada dos anos 1930 sobre a detetive Torchy Blaine, uma repórter que investigava casos intrincados e que serviria de inspiração para o surgimento da também jornalista Lois Lane, a namorada do Super-Homem.

Toledo mantém, mais, alguns dos principais itens da filmografia de Alfred Hitchcok, o mestre do suspense. Viajou cinco vezes para Hollywood e, claro, conheceu os estúdios das companhias Warner, Universal, Fox e Columbia (Sony). Trouxe de lá souvenires que guarda com cuidado, fotos autografadas de celebridades, entre as quais as de Julie Newmar, a Mulher-Gato da série Batman; Jonathas Harris, o impagável dr. Smith que infernizava a vida da família Robinson em Perdidos no espaço, Barbara Eden, de Jeannie é um gênio e David Prowse, o Darth Wader da trilogia Guerra nas estrelas.

Mais recentemente, Nelson Toledo Filho descobriu no seu acervo um filme que adquiriu há 15 anos e que, curiosamente, nunca havia assistido na íntegra. O documentário Revolução de 30, do diretor Sylvio Back, rediscute aquele que para muitos historiadores foi um dos mais importantes movimentos da história política do Brasil do século XX. Nele estão imagens dos anos 20, 30 e, numa das sequências, Toledo reconheceu bairros de Votorantim. O interessante, ele conta, é que as passagens nada têm a ver com o tema do documentário. Aparecem cenas da fábrica de tecidos, o industrial Pereira Ignácio e a partida entre os clubes Savoya e Paulistano. O jogo, realizado em 1924, terminou em 4 a 4 e marcou a inauguração do estádio da equipe. Já o filme seria exibido pouco tempo depois em São Paulo, ou seja, estreou fora de Votorantim.

Aficcionado

Com esse histórico, Nelson Toledo Filho figura entre aqueles que não abrem mão das mídias antigas. Sua escolha, afinal, recai sobre um formato anterior ao advento do videocassete e da fita em VHS. O Super-8 tem como característica reproduzir trechos de filmes, ou seja, não apresentam a íntegra da produção.

É como uma edição. Produções do gênero épico bíblico cuja duração ultrapassa, em alguns casos, três horas são contadas em 20 minutos. Além disso, para assistir é necessário dispor de um projetor. Toledo lembra que quando aderiu ao formato, o equipamento não era tão caro quanto hoje.

Passados tanto tempo, o Super-8 praticamente foi abolido e é encontrado pelos fanáticos em lugares específicos, como sites. É preciso muita paciência e determinação para adquirir os títulos. Nelson Toledo não se importa. Ele diz que o fascínio que a mídia exerce compensa o esforço.

O professor não se considera tão radical. Ainda que em menor escala, sua estante acomoda DVDs e ele, claro, vai ao cinema com frequência. Além disso, como cinéfilo, acompanha todo ano as cerimônias de entrega do Globo de Ouro e do Oscar. Em casa, mantém dois projetores que usa quando a vontade pede. Ou seja, sempre.

Texto e imagens reproduzidos do site: .jornalcruzeiro.com.br

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