domingo, 9 de abril de 2017

Carlos Cardoso - Cinema: Ame o resultado, não a ferramenta

Foto reproduzida do site: reddit.com
Postado por Máquina de CINEMA.

Publicado originalmente no site Meio Bit, em 29 de junho de 2012.

Cinema: Ame o resultado, não a ferramenta.
Por Carlos Cardoso.

Um post no Reddit iniciou uma discussão interessante, colocando saudosistas versus progressistas. Tudo começou quando um funcionário de um multiplex postou uma imagem mostrando parte dos 12 projetores de filmes que estão substituindo por digitais.

É triste, claro, por quase 100 anos cinema foi associado a grandes carretéis de filme, projecionistas eram uma profissão quase mágica e honrada –não só por ajudarem a matar Hitler- e há todo um componente lúdico em pegar um pedaço de filme, ver materializado ali aquela história em movimento.

Só que o ganho é grande demais, e nem falo da redução de custo para cinemas e estúdios, falo para nós, espectadores. Quase todo saudosista não tem idade para lembrar dos percalços do cinema tradicional, quando um projecionista incompetente deixava o filme fora de enquadramento e as legendas sumiam.

Duvido que quem defenda avidamente o cinema tradicional tenha gritado “OLHA O FOOOCO!!” durante a mudança de rolos nos filmes, ou que tenha corrido para ver filmes na estreia pois depois de alguns dias as cópias começavam a se degradar. Em poucas semanas um filme era acompanhado de arranhados, bolinhas pretas e os malditos estalos quando um arranhão na faixa de áudio gerava um pulso de 7522 decibéis nos amplificadores.

Hoje um filme visto em seu último dia de exibição é tão límpido, nítido e brilhante quanto na estreia. A facilidade de cópia permite que filmes passem em mais cinemas e cinemas possam exibir sessões às vezes uma única vez ao dia.

Não é como se toda a tecnologia tenha mudado de um dia pro outro. Hoje praticamente todo filme é digitalizado, editado em um computador e, no caso dos “convencionais”, impresso em película e distribuído normalmente. O fator digital já está presente, ninguém mais faz composição de efeitos especiais na mão, mesmo as cenas filmadas com modelos são finalizadas no digital.

Não há mais “pureza” do analógico, não importa o quanto se reclame, você pode ter um projetor de 1870 passando seu filme. De que adianta, se foi filmado numa Red, editado num Smoke e cheio de efeitos e cenários modelados no 3D Studio?

Eu acho lindo o cinema tradicional, admiro o pioneirismo, mas também lembro de como era proibitivo ter uma câmera Super8, lembro de como o que é natural hoje –qualquer celular poder ser usado para filmar alguma coisa- era impossível 30 anos atrás.

Não há saudosismo que supere a sensação de saber que toda uma geração está brincando de fazer cinema, fazer vlog, fazer vídeo, sem as restrições financeiras e tecnológicas que massacraram tantas carreiras promissoras.

Quando produziu e dirigiu Clerks em 1994 Kevin Smith estourou todos os cartões de crédito e vendeu sua coleção de quadrinhos para conseguir os US$27.575 do orçamento. O próprio filme em preto e branco não foi estilo, foi penúria. Décadas depois ele filmou Red State com uma câmera RED e uma Canon EOS 7D para algumas cenas. No final do dia voltava para casa, editava no Final Cut Pro o material e ia dormir com a cena praticamente pronta. No último dia de filmagem o filme estava virtualmente pronto.

Nenhum filme em película vale isso. A liberdade que a molecada tem hoje, podendo expressar a criatividade com virtualmente nenhum dinheiro é algo incrível, e se o preço disso for ver filmes sem arranhões e sujeito, saídos de um projetor digital, que seja.

Texto reproduzido do site: meiobit.com

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