sábado, 29 de novembro de 2014

A sétima arte no Oswaldo Cruz.


Publicado originalmente no Diário do Grande ABC, em 16 de setembro de 2014.

A sétima arte no Oswaldo Cruz.
Por Vanessa de Oliveira.

No escurinho do cinema, Atilio Santarelli, 56 anos, encantou-se não só com produções cinematográficas, mas também pelos bastidores responsáveis pela reprodução dos filmes. Em sua casa no bairro Oswaldo Cruz, em São Caetano, ele reservou um cômodo para abrigar 15 projetores, em funcionamento, de película 35 mm (milímetros), que por décadas transmitiram clássicos da sétima arte e emocionaram milhares de espectadores. Outros dez estão na casa de uma tia, em Santo André, mas em breve também integrarão o espaço. Uma urna de ingressos e cartazes originais de filmes como Até o Último Mercenário, estrelado por Carlos Miranda (protagonista da famosa série Vigilante Rodoviário), compõem o ambiente. Miranda, inclusive, é ex-cunhado de Santarelli.

A paixão pelo cinema é herança de família. O avô, que também se chamava Atilio, foi proprietário, em 1921, do primeiro cinema de São Caetano, o Cine Central. O pai e os tios de Santarelli expandiriam, anos depois, os estabelecimentos para Mauá, Santo André, São Bernardo, Ribeirão Pires e São Paulo. Foram nesses cinemas que Santarelli passou sua infância. “De manhã, eu ia para a escola e, à tarde, meu pai me levava ao cinema. Nesse horário não tinha sessão e eu ficava mexendo nos projetores”, lembra.

O amor pelas máquinas o acompanhou na maturidade e até causou problemas. “Quando namorava minha esposa, largava-a na plateia para ver os projetores. Ela ficava muito brava e avisava: ‘Se for para ir ao cinema e você subir na cabine para ver projetor, não vou, vá sozinho’.”

O desejo de colecionar projetores começou na década de 1980, ao trabalhar com telecinagem (processo que reverte a película de cinema em sinal de vídeo). “Conheci algumas pessoas que tinham o equipamento em casa e pensei: por que não posso ter um? Montei um projetor no quintal da casa da minha mãe e projetava os filmes na parede da cozinha. Vinham primos, amigos, todo mundo adorava.”

Como os equipamentos da família haviam sido vendidos, Santarelli engrossou a coleção comprando e ganhando os equipamentos. Entre as relíquias está um projetor de 1949, que pertenceu ao Cine Iporanga, de Santos. Ele transmite filmes a um cinema particular que Santarelli projetou, com direito a telão e cinco poltronas, como manda a tradição.

De 600 títulos de filme em películas, ele se desfez de alguns e ficou só com os que mais gosta. “Tem que ter tempo para cuidar, pois a película estraga, então, diminui a quantidade de filmes. Até porque o que gosto mesmo é a máquina.”

Hoje, a era da tecnologia não atrai o interesse do colecionador. “Os cinemas de antigamente tinham até 4.000 lugares, telas gigantescas. Agora, vou ao cinema no shopping e o que vejo é um salão quadrado, com carpete no chão e na parede, uma tela e mais nada. Evidentemente que a projeção digital é fantástica, mas o glamour de antes, com palco, cortina vermelha, acabou. Sou um privilegiado por ainda ter vivido um pouco da época dos cinemas de rua.”


Texto e imagem reproduzidos do site: dgabc.com.br/Noticia

Um comentário:

  1. Colecionador constrói cinema.
    free-lance para a Folha.

    O amor à sétima arte não só transformou o fotógrafo Atilio Santarelli, 38, em um colecionador de filmes, como o levou a construir em sua casa um minicinema, que tem até sala de espera e bilheteria. "Praticamente nasci dentro de um cinema. Meu avó e meu pai foram donos de salas.

    Essa foi a forma que encontrei de ter a minha." Santarelli conta que, quando definiu o projeto de sua casa, previu a construção das duas salas. Há quatro meses no novo imóvel, ele afirma que ainda faltam detalhes de acabamento, mas que o cinema está praticamente pronto. Quanto ao valor que gastou para montar a sala, ele diz não ter calculado. "Se eu parar para fazer as contas, vou ficar louco." Santarelli conta também que os filmes não têm valor de mercado, podendo variar de preço de acordo com a situação. "Eles podem ser comprados por R$ 10 ou por R$ 5 mil, de acordo com o filme e o interesse do comprador." Completo.

    A sala de cinema de Santarelli tem aproximadamente 45 m2, 18 cadeiras e dois sofás, além da bilheteria (que pertenceu ao extinto Cine Rosário, que ficava na região central de São Paulo), ar-condicionado e a cabine onde fica sua coleção de filmes e o projetor. A data da sessão de estréia ainda não foi marcada, mas, para satisfazer seus convidados, Santarelli dispõe de um acervo de 400 rolos de filmes, entre seriados e longas-metragens.

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